O nadador Cesar Cielo tem em sua personalidade uma característica comum a muitos campeões de vários esportes: não gosta de perder. E quem não gosta de perder treina mais, trabalha duro e busca motivação para, no fim de tudo, obter resultados. Cielo deu 34 braçadas, não respirou nenhuma vez, e ganhou a primeira medalha de ouro da natação brasileira. Venceu os 50 metros livre, em 21s30, nos Jogos Olímpicos de Pequim, em agosto. Uma prova tão rápida! Uma medalha em pouco mais de 20 segundos! Mas quanto trabalho para chegar até lá! E haja motivação! Desde então, um questionamento tem aparecido em todas as entrevistas que o campeão olímpico concede. Onde encontra motivação?Cesar Cielo não gosta de derrotas, mas sabe se superar. “Acho que só ganhei a Olimpíada quando ´tropecei´ no Mare Nostrum.” Sabe que precisa fazer sacrifícios “como ficar longe da família”. Enfrenta o medo. “Na final, as pernas tremeram, mas pulei e fiz o que eu sabia.” E é muito competitivo. “A melhor sensação do mundo foi ver o meu nome depois do número 1.” Cesar Cielo conta que começou o ano de 2008 acordando às 4h30 da madrugada do dia 1º para um treino, sob orientação do técnico Brett Hawke. Um treino simbólico e duro: nadar 365 piscinas, uma para cada dia do calendário. “Achava que se chegasse às finais dos 50 m livre e 100 m livre, seria muito bom. Mas, no fundo, eu sabia que estava lá por merecimento e mudei minha atitude, meu modo de pensar. Centésimos de segundos separam vencedor e perdedor, todos estão preparados. Então, acho que a cabeça faz mesmo a diferença.” Cielo tem vários mecanismos de buscar motivação, além de treinar muito duro e acreditar no programa de seus técnicos. Um deles é colar frases e metas pelas paredes da casa. Cielo afirma que “é muito visual” e, por isso, adota recursos a partir de palavras e imagens para se motivar. “Vai treinar!” “Você é seu maior adversário” “Enquanto você está aqui c... tem um maluco treinando"
“Concentre-se na sua prova” “Não se preocupe com os outros” “Não esqueça de tomar o seu suplemento” “Siga seus objetivos” “Faça uma prova perfeita” “O problema é você mesmo! Aprenda a lidar com isso e se vire” Frases como essas estão coladas nas paredes da casa e do quarto de Cesar Cielo em Auburn, São Paulo ou Santa Bárbara D´Oeste. Servem para mantê-lo motivado, sem desanimar nem desviar dos seus objetivos. “Uma vez uma menina me mandou uma frase que dizia o seguinte: ´Não desperdice as chances que você mesmo criou´. Essa foi para a parede. E encaixou direitinho em mim, porque eu estava num momento difícil nos Estados Unidos, com saudade, não sabia o que fazer. Mas pensei: ´Não passei por tudo isso para ficar desesperado e deixar uma coisinha mudar o meu trajeto´. Toda hora que bate um aperto, isso me ajuda.” No teto do quarto, sobre a sua cama, colou um papel com o tempo que ainda quer fazer nos 50 metros livre, seu segredo mais bem guardado. Quando alcançar o objetivo, vai queimá-lo como já fez com outros bilhetes cujas metas já conquistou. Já anotou no papel o tempo de 49 segundos para os 100 m livre. Fez 48s. “Gosto de queimar tudo depois, como num ritual”, comenta. Cielo ganhou o bronze na Olimpíada de Pequim, com o tempo de 47s67. Irreverente, Cesar Cielo até já usou fotos de ídolos como Gustavo Borges e de Aleksandr Popov numa colagem para servir de estímulo – uma montagem em que os ídolos aparecem apontando para ele e dizendo ´esse garoto vai longe´. Também mandou colocar moldura nas capas das revistas Swimming World em que aparece Gustavo Borges e ele próprio. As molduras estão na parede lado a lado. Antes das provas Cielo tem hábitos, imediatamente antes da prova, que passaram a chamar a atenção do público depois que ele ocupou o lugar mais alto do pódio em competições nobres, como Jogos Olímpicos, Mundiais e Pan-Americanos. E até já são imitados por jovens nadadores. Antes das competições, a trilha sonora tocando direto em seu iPod, com músicas escolhidas a dedo para incentivá-lo. Nas finais em Pequim, o nadador escutou o tema de abertura da série ´The Contender´. Mas isso pode variar, do clássico ao rock. Já na raia, pega água da piscina e cospe. E se estapeia nos braços, pernas e tórax até ficar com o peito marcado, vermelho. "Tudo para ficar mais na pilha, para despertar o corpo", explica. O dedo aponta o céu e ainda se benze, tanto para pedir quanto para agradecer um resultado. São imagens que impressionam adversários e a TV mostra para o mundo todo. "Não é um ritual nem segue qualquer sequência. Depende do dia. E do que preciso para focar na prova."
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